sábado, maio 05, 2007

domingo, dezembro 03, 2006

Acerca das imagens roubadas

Aliando o processo da pintura à investigação e à procura de imagens, tanto em livros como em jornais ou mesmo na web, que digam respeito à especulação da problemática da existência e da condição humana, define-se deste modo as regras da linguagem estética deste trabalho, experimentando evocar uma realidade social de acontecimentos, tendo como base a informação e também a notícia.


"Luva" - óleo s/ tela 2006

A representatividade fotográfica de cada obra, após ter sido "roubada" à mensagem enquanto conteúdo de uma realidade, libertando-a do ambiente da informação e da explicação textual que por ventura a poderá complementar, surge isolada no seu silêncio enquanto pintura, abrindo caminhos para a desbanalização da própria imagem atribuindo-lhe um carácter dinâmico, único e ao mesmo tempo sublime.


"O inventor" - óleo s/ tela 2006

As linhas que ligam estas obras umas às outras isolam-se em patamares de actuação, divergentes entre si tanto temática como formalmente, pois somente deste modo se poderá activar e manter a integridade de cada peça como um projecto autónomo, valorizando assim o aspecto estético da imagem crua e muitas vezes cruel, desprotegida e banal que os media quantitativamente exploram. A obra não se limita a si própria. Ela faz-nos questionar o que nos diz respeito.























"Janela" - óleo s/ tela 2006



"Jogo da pedra" da série "Lapidação"- óleo s/ tela 2006



"Meditação" - óleo s/ papel de jornal 2006



"Luva II" - óleo s/ papel de jornal 2006

terça-feira, outubro 24, 2006

Closer to the skin


"Próximo" - óleo s/ tela 2006




"Manto" da série "Gripe das aves" - óleo s/ tela 2006




"Mulher cega" - óleo s/ tela 2006




"A pele" - óleo s/ tela 2006




"Grande observatório" da série "Gripe das aves"- óleo s/ tela 2006




"Manequim" - óleo s/ tela 2006


terça-feira, agosto 08, 2006

Gripe das aves ou a beleza transformada da matéria



A matéria transporta consigo memórias etéreas de tudo o que existe no nosso ambiente. Ela também reflecte as intervenções e as más decisões da Humanidade sobre a sua natureza, alterando e manipulando assim a sua integridade enquanto espírito. Desenvolvendo-se animicamente na sua forma material, o homem poderá exercer a sua condição espiritual em consonância com as leis naturais contribuindo em consciência para um casamento equilibrado entre o espirito e a matéria, se assim o desejar. Se o Homem negligenciar esta condição, criar-se-ão condições propícias para se formarem reacções adversas às leis que regem o Todo, resultando o aparecimento de novas formas de vida, novos virus, que prejudicarão o seu equilibrio enquanto ser evolutivo.

Rogerio Silva
2006


quinta-feira, agosto 03, 2006

Lugar dos Anjos, Ilha de St. Maria, Açores


terça-feira, julho 18, 2006

Acrílico sobre tela

O Espírito

É essencial que a verdadeira teoria da Natureza e do Homem contenha algo de progressivo. Usos que estão esgotados ou que poderão vir a ficá-lo e factos que se esgotam na sua própria exposição, não podem constituir toda a verdade desta bela morada em que o homem está abrigado e na qual as sua faculdades encontram exercicio adequado e infindável. E todos os fins da Natureza admitem ser resumidos num só, que garante à actividade humana um alcance infinito. Através dos seus reinos, até à periferia e às margens das coisas, mantém-se fiel à causa na qual tem origem. Fala sempre do espírito. Sugere o absoluto. É um efeito perpétuo. É uma enorme sombra que permanentemente indica o Sol que está por trás de nós.

Ralph Waldo Emerson

segunda-feira, julho 17, 2006

O estado alterado das coisas

















Exposição Galeria Novo Século, 2003

O mundo está cheio de coisas. As coisas estão agarradas às nossas vidas. Por todo o lado que andemos, que olhemos ou mesmo quando as esquecemos que existem, as coisas estão lá. As coisas são uma presença constante nas nossas vidas porém, se não existissem, era mais difícil arranjarmos referências para a nossa existência material. Estando as coisas directamente ligadas à utilização objectiva do nosso corpo, também as usamos para subjectivar os vários universos que vamos inventando à nossa volta. Elas são-nos úteis enquanto objectos de uso e nós, para além de termos o poder de as destituir da sua forma, também as criamos.

Aproximando a nossa visão à utilização que damos às coisas, sentimos que elas nos pertencem. Damos-lhe um nome, um sentido, criamos afinidades com as suas formas, personalizamos o seu desempenho e usamo-las na sua função. Somos uns verdadeiros coleccionadores de coisas. Andamos com coisas nos bolsos, temos a casa cheia de coisas, temos o hábito de perder coisas e também compramos coisas para guardar coisas.

Cada coisa tem a sua função e essa é inalterável. Eramos loucos se escrevêssemos com um copo, bebêssemos água por um sapato, conduzissemos um prato ou vivessemos numa torradeira. Todas as coisas estão instituídas num propósito e, nesse aspecto, todos estamos programados para as usarmos da mesma maneira. As coisas estão presas à sua função e jamais serão outras coisas, a não ser que seja essa a nossa vontade.

A vontade de prevertermos a direcção das coisas dentro de si próprias é-nos facultado pelo poder da criação e do nosso imaginário. Chamarmos outra coisa áquela coisa, não será destruír a sua proposta como objecto original, mas questionar alternativas possíveis ao espaço fisico que poderá ocupar numa outra função. Será que as coisas têm que ser as coisas que nós queremos que elas sejam? Talvez as coisas se tornassem mais interessantes se lhes atribuíssemos outras identidades que não aquelas que já lhes conhecemos.

Conhecermos as coisas na sua origem elementar, põe-nos em contacto com a matéria e a sua composição. As coisas são as coisas que o homem quer que elas sejam porque as manipula, dá-lhes nomes e funções. As tomadas de consciência que surgem através do entendimento das coisas tal como as conhecemos, quer na sua essência, quer na sua existência como coisas, ajudam-nos a trabalhar o seu aspecto formal dentro dos limites do conhecimento que temos acerca das suas partes.

Se alterássemos a verdade das coisas e lhes criássemos um novo estatuto dentro de uma realidade que não fosse a da própria coisa e lhes dessemos um rumo e um uso diferente ao invés da sua função original, talvez a sua composição derivasse na alteração matérica dos elementos que a compusessem. Talvez o tempo de vida das coisas se transformasse num outro tempo de duração, que não fosse aquele para o qual elas caminham dentro dos seus próprios limites.

A capacidade que temos de adaptar as coisas às nossas necessidades, dá-nos a liberdade de escolher pontos de equilíbrio entre o que estéticamente nos seduz através do mundo que nos rodeia e a imaginação que podemos usar para alterar os valores estéticos de umas, para outras coisas que nos poderão ser mais úteis.


Rogerio Silva
Agosto 2003