terça-feira, julho 18, 2006

Acrílico sobre tela

O Espírito

É essencial que a verdadeira teoria da Natureza e do Homem contenha algo de progressivo. Usos que estão esgotados ou que poderão vir a ficá-lo e factos que se esgotam na sua própria exposição, não podem constituir toda a verdade desta bela morada em que o homem está abrigado e na qual as sua faculdades encontram exercicio adequado e infindável. E todos os fins da Natureza admitem ser resumidos num só, que garante à actividade humana um alcance infinito. Através dos seus reinos, até à periferia e às margens das coisas, mantém-se fiel à causa na qual tem origem. Fala sempre do espírito. Sugere o absoluto. É um efeito perpétuo. É uma enorme sombra que permanentemente indica o Sol que está por trás de nós.

Ralph Waldo Emerson

segunda-feira, julho 17, 2006

O estado alterado das coisas

















Exposição Galeria Novo Século, 2003

O mundo está cheio de coisas. As coisas estão agarradas às nossas vidas. Por todo o lado que andemos, que olhemos ou mesmo quando as esquecemos que existem, as coisas estão lá. As coisas são uma presença constante nas nossas vidas porém, se não existissem, era mais difícil arranjarmos referências para a nossa existência material. Estando as coisas directamente ligadas à utilização objectiva do nosso corpo, também as usamos para subjectivar os vários universos que vamos inventando à nossa volta. Elas são-nos úteis enquanto objectos de uso e nós, para além de termos o poder de as destituir da sua forma, também as criamos.

Aproximando a nossa visão à utilização que damos às coisas, sentimos que elas nos pertencem. Damos-lhe um nome, um sentido, criamos afinidades com as suas formas, personalizamos o seu desempenho e usamo-las na sua função. Somos uns verdadeiros coleccionadores de coisas. Andamos com coisas nos bolsos, temos a casa cheia de coisas, temos o hábito de perder coisas e também compramos coisas para guardar coisas.

Cada coisa tem a sua função e essa é inalterável. Eramos loucos se escrevêssemos com um copo, bebêssemos água por um sapato, conduzissemos um prato ou vivessemos numa torradeira. Todas as coisas estão instituídas num propósito e, nesse aspecto, todos estamos programados para as usarmos da mesma maneira. As coisas estão presas à sua função e jamais serão outras coisas, a não ser que seja essa a nossa vontade.

A vontade de prevertermos a direcção das coisas dentro de si próprias é-nos facultado pelo poder da criação e do nosso imaginário. Chamarmos outra coisa áquela coisa, não será destruír a sua proposta como objecto original, mas questionar alternativas possíveis ao espaço fisico que poderá ocupar numa outra função. Será que as coisas têm que ser as coisas que nós queremos que elas sejam? Talvez as coisas se tornassem mais interessantes se lhes atribuíssemos outras identidades que não aquelas que já lhes conhecemos.

Conhecermos as coisas na sua origem elementar, põe-nos em contacto com a matéria e a sua composição. As coisas são as coisas que o homem quer que elas sejam porque as manipula, dá-lhes nomes e funções. As tomadas de consciência que surgem através do entendimento das coisas tal como as conhecemos, quer na sua essência, quer na sua existência como coisas, ajudam-nos a trabalhar o seu aspecto formal dentro dos limites do conhecimento que temos acerca das suas partes.

Se alterássemos a verdade das coisas e lhes criássemos um novo estatuto dentro de uma realidade que não fosse a da própria coisa e lhes dessemos um rumo e um uso diferente ao invés da sua função original, talvez a sua composição derivasse na alteração matérica dos elementos que a compusessem. Talvez o tempo de vida das coisas se transformasse num outro tempo de duração, que não fosse aquele para o qual elas caminham dentro dos seus próprios limites.

A capacidade que temos de adaptar as coisas às nossas necessidades, dá-nos a liberdade de escolher pontos de equilíbrio entre o que estéticamente nos seduz através do mundo que nos rodeia e a imaginação que podemos usar para alterar os valores estéticos de umas, para outras coisas que nos poderão ser mais úteis.


Rogerio Silva
Agosto 2003


sexta-feira, julho 14, 2006

SKIP - um exercicio de brancura


A obra evoca um anúncio a um detergente. A personagem segura uma embalagem de um produto de limpeza sem qualquer informação, em branco. É essa forma vazia e luminosa, que fundamenta esse conceito de brancura. Uma brancura quase divina.

Rogerio Silva
Julho 2006

quinta-feira, julho 13, 2006

Um sublime nada





Centro Cultural Cristovão Colombo
Ilha de Santa Maria, Açores


Um sublime nada � um projecto de pintura em que o tema de cada obra, se isola em si próprio como se cada momento tivesse sido apanhado e congelado no tempo. No tempo de cada olhar. Cada peça é habitada por uma paisagem, uma personagem ou por exemplo um objecto. Coisas banais que estamos habituados a não dar grande importância, coisas que nos passam ao lado ou simplesmente sem significado atribuído como se não existissem na nossa vida. Como se fossem nada. Esse nada, que também pode ser tudo, é o ponto central deste projecto, Se definirmos cada olhar como único, essa singularidade poderá ter uma importância extrema no espaço físico onde nos movimentamos e isso poderá atribuir a cada imagem banal uma importância tal, capaz de alterar o rumo das escolhas que fazemos com a objectividade a que estamos habituados. Foi essa escolha, essa preocupação pela banalidade das imagens �?? tiradas de jornais ou de outros registos fotográficos, ou mesmo directamente da natureza - que fizeram surgir a necessidade de sublimá-las, dando-lhes um significado aparentemente divino. Tornando-as importantes na sua essência enquanto registo dessa mesma preocupação. Tudo se movimenta à nossa volta. As imagens vibram com frequências diferentes a cada olhar. Depende de nós a utilização que lhes damos, o significado que inspiram e a necessidade que temos de sublimá-las para que se tornem eternas.

Rogerio Silva
Mafra, 13 Junho 2006

Galeria Trindade, PORTO Novembro 2005


Substâncias da memória


“Estas pinturas recentes reflectem variadas memórias colectáveis. As pinturas são difusas e quase fotográficas. Elas pretendem transmitir a essência do momento capturado - a vibração subtil da representação. As paisagens e as personagens representadas, pretendem ser tiradas de situações banais da vida.
Olhar sobre a escolha intuitiva do sujeito, usado no objecto da pintura, abre lugar às impressões dos elementos do espaço fisico, às emoções da natureza, à noção temporal dos dias. Pretendo com este conceito subjectivo e quase étereo representar a pintura como matéria, bruta e subtil, de forma a aproximar o espaço do nosso corpo fisico, à complexidade de uma certa substância divina.
Interessa-me que o aspecto representativo deste trabalho se transforme também, em certo sentido, numa linha abstractizante e, desta forma, o olhar se perca numa zona mais próxima da essência dos acontecimentos visuais, numa energia própria da pintura, do que simplesmente enquanto pintura na superfície da tela.”

Rogerio Silva
Novembro 2005